quarta-feira, outubro 25, 2017

Bom comportamento, de Ben e Joshua Safdie ***1/2

Por vezes, principalmente em seu terço inicial, a estrutura narrativa e a trama de “Bom comportamento” (2017) sugerem um derivado do gênero suspense-policial naquela linha de uma história envolvendo um grande plano de roubo ou golpe semelhante. Com o desenrolar da narrativa, entretanto, a verdadeira natureza do filme dirigido por Bem e Joshua Safdie vai se manifestando de maneira contundente e perturbadora. A trajetória do assaltante Connie (Robert Pattinson) para tentar libertar o irmão Nick (Ben Safdie) após este ter sido preso durante a fuga de um roubo à banco frustrado mais tem a ver com uma crônica sardônica sobre desajustados do que propriamente com um thriller de ação. Ainda assim, a forma com que os Safdie conduzem a produção privilegia a tensão e a encenação frenética. A uma certa altura da trama, fica evidente que as escolhas de Connie na busca do seu objetivo obedecem a uma lógica aleatória e equivocada, típica de um habitual perdedor. Quando entra em cena o esquisito marginal Ray (Buddy Durress), o roteiro e atmosfera de “Bom comportamento” ficam ainda mais configurados dentro de uma síntese que oscila entre o melancólico e o delirante – não à toa, Connie e Ray embalam suas correrias e mancadas com doses generosas de álcool e LSD, fazendo com que o espectador embarque em um amargo e longo pesadelo com direito a desconcertantes toques cômicos. O formalismo articulado pelos diretores acentua com precisão essa ambientação marcada pela crueza e por um sutil humor negro – há uma clareza imagética que realça cada gesto e expressão dos personagens, amplificando tanto a assustadora brutalidade gráfica de algumas cenas quanto a densidade psicológica e a frieza emocional de outras sequências. Além disso, conta-se com alguns detalhes cênicos que revelam notável sintonia com o espírito da obra, como as vigorosas interpretações de Pattinson e Duress e a trilha sonora que combina timbres oitentistas e nuances eletrônicas.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Me lembrou muito o melhor do cinema americano dos anos 70