terça-feira, outubro 31, 2017

Rendez-vous, de André Techiné ***1/2

Os filmes do diretor André Techiné geralmente parecem se configurar como sóbrios contos morais. A grande questão, entretanto, é que essa moral obedece a uma lógica ambígua e particular. “Rendez-vous” (1985) é um exemplar enfático dessa tendência do cineasta francês. Como principal mote aparente de sua trama, desenvolve-se um conturbado triângulo amoroso em meio ao cenário artístico parisiense. Só que um dos vértices de tal relacionamento é de um atormentado ator que morre logo no terço inicial do filme. Nesse sentido, a narrativa concebida por Techiné vai se equilibrando numa tênue linha entre uma ambientação naturalista e uma atmosfera fantástica, como se a convivência entre esses dois planos beirasse o prosaico. Por trás da estranheza dessa história há ainda um subtexto sutil sobre a natureza da arte – a forma com que a protagonista Nina (Juliett Binoche) amadurece entre os descaminhos de sua vida amorosa também serve como substrato da autodescoberta de suas potencialidades como atriz. As evidentes implicações psicológicas e simbólicas do roteiro recebem um tratamento formal misto de rigor e fluidez por parte de Techiné, centrando grande força no vigor de sua encenação e na estética precisa da fotografia e edição.

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