quarta-feira, outubro 04, 2017

Kingsman: O círculo dourado, de Matthew Vaughn **

O escritor escocês Mark Millar é um nome fundamental para se entender não só o cenário dos quadrinhos contemporâneos como também a cada vez mais intensa relação que se estabelece entre as indústrias das HQs e do cinema. Millar é o roteirista de algumas das principais obras dos comics nos últimos 25 anos, além do fato de que boa parte dos títulos que fazem parte do seu selo Millarworld já recebeu versões para a tela grande – sem contar que os filmes dos Vingadores se baseiam em conceitos que Millar desenvolveu na série “Os supremos” (no caso, os Vingadores do alternativo universo Ultimate da Marvel). A franquia cinematográfica “Kingsman” é originária de uma minissérie da MIllarworld, com um detalhe a mais: esse “Kingsman: O círculo dourado” (2017) é uma continuação para os cinemas, mas que ainda nem se efetivou nos quadrinhos! A curiosidade de tais dados estatísticos e comerciais exemplificam como os quadrinhos se tornaram uma inesgotável fonte de estratégias de marketing e lucro para as grandes corporações midiáticas, mas, no final das contas, não são garantia de que o filme em questão será relevante como narrativa cinematográfica. E nesse último quesito, o longa-metragem dirigido por Matthew Vaughn deixa bastante a desejar. Para começar, os principais motes dramáticos da trama da obra original de Millar são explorados de maneira superficial. Se na minissérie havia uma certa ambiguidade na atmosfera e uma visão crítica sobre o dilema político do conflito segurança versus liberdade, tema esse recorrente nos quadrinhos de Millar, em “O círculo dourado” praticamente tais características se perdem em meio a uma concepção estética e textual bastante esquemática e superficial, com um roteiro que escancara um discurso sócio-político maniqueísta e conservador. Mesmo no quesito de aventura escapista o filme de Vaughn é frustrante, perdendo-se numa encenação e ritmo narrativo que mais remetem a um vídeo game genérico. Vaughn até procura dar uma certa credibilidade para a obra ao inserir algumas referências à cultura pop e um tom galhofeiro em algumas sequências, mas tudo isso acaba soando estéril ou forçado diante do convencionalismo inexpressivo das suas escolhas formais e do desenvolvimento do roteiro. E a sensação de decepção fica ainda mais reforçada quando vem à lembrança de que se trata do mesmo cineasta de trabalhos memoráveis como “Nem tudo é o que parece” (2004), “Kick ass” (2010) e “X-Men: Primeira classe” (2011).

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