segunda-feira, junho 10, 2019

Viagem ao mundo da alucinação, de Roger Corman ***1/2


Ainda que seja um diretor bastante cultuado, Roger Corman foi antes de mais nada um grande homem de negócio dentro do cinema. Mesmo os antológicos filmes que realizou adaptando a obra literária de Edgar Allan Poe são frutos principalmente de um afiado senso de oportunidade mercadológica e de utilização de recursos de produção. Essa mesma lógica artística-comercial o levou a realizar alguns longas dentro da temática sexo-drogas-rock and roll quando essa tríade estava no auge em meados dos anos 1960. “Viagem ao mundo da alucinação” (1967) talvez seja o exemplar mais emblemático de tal tendência, tendo também relevante conotação histórica por trazer em seu elenco e equipe criativa os nomes de profissionais que poucos anos mais tarde estouraram em Hollywood como Jack Nicholson, Denis Hooper, Peter Fonda e Bruce Dern. Por outro lado, o filme de Corman transcende a mera curiosidade histórica ou comercial, tendo um peso artístico considerável. Em meio a maneirismos típicos de um caráter exploitation há momentos efetivamente antológicos, em que as angústias e inquietações existenciais do roteiro encontram uma moldura estética-narrativa mais que adequada. Truques imagéticos baratos, encenação vigorosa e uma trilha sonora que sintetiza rock psicodélico e easy listening de maneira notável formam um todo sensorial entre o atordoante e o encantador. Nessa levada, Corman articula com sensibilidade e ironia a sua particular visão sobre o universo lisérgico sessentista.

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