terça-feira, agosto 08, 2006

Dizem Por Aí, de Rob Reiner *

“A Primeira Noite de Um Homem”, obra clássica de 1967 dirigida por Mike Nichols, é um filme que esteticamente não trazia grandes novidades para época de seu lançamento. O que mais chamava atenção realmente era sua parte temática, que trazia um caráter contestador, ao questionar com tremenda ironia e humanidade alguns valores tão caros à sociedade ocidental como o casamento e os ideais pequeno burgueses da classe média.

E por que estou mencionando este filme ao fazer esse comentário de “Dizem Por Aí”, produção de 2005 dirigida por Rob Reiner? É que este último tem como um dos vértices de sua trama a suposta história “real” na qual o roteiro de “A Primeira Noite de Um Homem” teria se baseado. Em um primeiro momento, tal relação faria supor que “Dizem Por Aí” seria uma espécie de homenagem ao marcante filme de Nichols. Até porque no início a personagem Sarah (Jennifer Aniston) remete um pouco a Benjamin Braddock (Dustin Hoffman) no sentido de ambos serem pessoas que se sentem deslocadas no mundo e sem saberem direito o que fazer da vida. A impressão, entretanto, revela-se enganosa ao longo do filme. Sarah passa por algumas experiências reveladoras ao envolver-se com Beau Burroughs (Kevin Costner), antigo amante de sua mãe, e saber de mais alguns “podres” de sua família, tudo isso para chegar ao final moralista e concluir que o melhor para ela é casar com o seu apático noivo (Mark Ruffalo) do qual nem gosta tanto assim e continuar trabalhando no emprego que detesta. Além disso, qualquer sinal de dubiedade do passado da sua família é deixado de lado para ressaltar o quanto a protagonista estava errada nos seus questionamentos iniciais. Ou seja, toda aquele antológico espírito contestador e a comovente ode pela busca da felicidade de “A Primeira Noite de Um Homem” vão para o ralo na visão moralista e bunda mole de “Dizem Por Aí”.

No resto, Reiner conduz seu filme da forma mais burocrática possível. Não há o mínimo tesão e nenhuma cena realmente digna de nota, com um elenco que parece constrangido pela apatia geral. Quer saber? Assistindo “Dizem Por Aí” a gente fica com uma vontade danada de rever “A Primeira Noite de Um Homem” para voltar a acreditar numa humanidade menos conformista.

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