Moro No Brasil, de Mika Kaurismäki ****
“Moro no Brasil” é um documentário dirigido pelo cineasta finlandês Mika Kaurismäki, que, aliás, realmente vive Brasil. No filme, ele disseca a história do samba, indo das suas origens indígenas até às suas vertentes mais atualizadas (Seu Jorge, funk carioca). Apesar dessa premissa, “Moro no Brasil” não tem nada de semelhante a um chato programa institucional. Muito pelo contrário. Mesmo mantendo uma certa linha didática no seu detalhismo, o documentário tem uma vivacidade e agilidade narrativa impressionantes. Kauristäki não se limita a ficar simplesmente registrando depoimentos e imagens, tendo uma concepção cinematográfica muito arrojada. As tomadas das apresentações dos artistas são sensacionais, pegando ângulos bem inusitados. E há algumas entrevistas antológicas com gente como Antônio da Nobrega, Caju e Castanha, Ivo Meirelles, Walter Alfaiate. Isso sem contar a inesquecível primeira cena do filme que já dá uma idéia do que está por vir: Kaurismäki está no meio de uma nevasca na Finlândia segurando um disco de Bossa Nova, com a sua narração em off dizendo: "Quando eu era adolescente, troquei a minha coleção de Deep Purple por uma coletânea de bossa nova. Meus amigos falaram que eu estava louco...".
Outro ponto muito interessante de “Moro no Brasil” é a estruturação de seu roteiro, que lembra bastante o fantástico documentário musical “Feel Like Going Home”, de Martin Scorsese, em que o diretor norte-americano mostra a trajetória do blues através dos seus principais expoentes. A diferença é que Scorsese vai do moderno (o blues eletrificado) até as raízes mais primitivas (a música folclórica da África), enquanto Kaurismäki faz justamente o caminho inverso para traçar a evolução do samba. O que importa, entretanto, é que os resultados obtidos em ambas as obras são espetaculares, representando verdadeiras declarações de amor à música.
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