quinta-feira, setembro 04, 2008

O Mar Mais Silencioso Daquele Verão, de Takeshi Kitano ***1/2


Os admiradores mais desavisados de Takeshi Kitano, acostumados com a violência fria e os banhos de sangue de obras magníficas como “Sonatine” (1993) e “Zatoichi” (2003), talvez estranhem a aparente inocência da comédia dramática “O Mar Mais Silencioso Daquele Verão” (1992), um dos filmes menos conhecidos de Kitano. Na verdade, tudo aquilo que caracteriza o universo desse mestre contemporâneo do cinema japonês está lá: o ritmo contemplativo, a amargura disfarçada de pequenas tolices, as emoções contidas dos personagens. A história ilusoriamente banal do surdo-mudo que quer ser surfista flui com naturalidade, às vezes até num tom quase prosaico, oscilando de forma insólita entre um humor quase constrangido e o drama rigoroso e acaba por desembocar em um final trágico que desconcerta pelo tom casual. No final das contas, é como se Kitano desprezasse as convenções dos gêneros cinematográficos (Isso é drama? Ou é comédia) e criasse uma categorização própria, ou seja, a sua concepção cinematográfica única. E que em obras posteriores ele radicalizou ainda mais.

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