Antes de mais nada, cabe ressaltar uma coisa: por mais que “Juízo” (2007) tenha por base fatos exclusivamente baseados em fatos reais, tal obra não se trata de um documentário, ao contrário de “Justiça” (2004), obra anterior da diretora Maria Augusta Ramos. Nessa produção mais recente, a cineasta optou por um recurso criativo que lembra bastante “Jogo de Cena” (2008) de Eduardo Coutinho. Em “Juízo”, há recriações dramáticas de alguns casos que tramitaram em uma Vara da Infância e da Juventude do Rio de Janeiro, além do retratar o quotidiano dos menores infratores em um centro de reeducação. Como por lei é proibido filmar menores infratores, os mesmos são “interpretados” por outros jovens igualmente carentes, mas que não tem problemas de justiça. Por outro lado, juízes, promotores e defensores públicos “interpretam” a si mesmos. É claro que o conteúdo do filme é impactante, pois apesar do mesmo não ser um documentário, o estilo de filmar da diretora é bastante seco e direto. A rotina e a trajetória desses jovens constituem um todo massacrante e com uma carga angustiante considerável. Mas confesso que o que mais me impressionou em “Juízo” foi a opção estética de Maria Augusta Ramos, em que por mais que se saiba que estamos vendo situações baseadas em fatos reais, ao mesmo tempo ficamos com a dúvida do quanto aquilo é distorcido pela própria interpretação da realidade. É nessa situação dúbia que se encontra a força motriz da narrativa do filme.
Nenhum comentário:
Postar um comentário