Reconheço que “Dúvida” (2008) tem as suas qualidades. É uma produção bem cuidada em termos técnicos, a temática do seu roteiro é potencialmente explosiva e tem um elenco de respeito (apesar de boa parte das interpretações soarem mecânicas e artificiais em algumas cenas). O problema é que o tratamento oferecido pelo diretor John Patrick Shanley chega a ser sufocante no seu convencionalismo e rigidez. Existe uma pretensão em ser sutil e até mesmo metafórico ao se focalizar o embate de um padre progressista (Philip Seymour Hoffman), mas possivelmente pedófilo, e uma religiosa inflexível e conservadora (Meryl Streep). O resultado, entretanto, é bem diverso do que foi desejado pelo cineasta. Os diálogos são excessivamente discursivos, não dando o menor espaço para alguma interpretação de quem assiste. A seqüência final do filme, com a referida religiosa chorando e proclamando com todas as letras os seus sentimentos de dúvida, é exemplar dessa equivocada opção narrativa, que na verdade revela a origem teatral do roteiro. Cinema não é literatura, sendo que em um filme é preferível a valorização do silêncio e da imagem em determinados momentos do que concentrar tudo nos diálogos.
2 comentários:
Eu realmente me irrito com esses filmes que dão todo o subtexto literalmente nos diálogos. Putz, custava ter um pouco de sutileza? Abraços.
Eu realmente gostei desse filme e de toda a abordagem que o tema teve. Confesso que não gostei do momento em que a Irmã Aloysius começa a chorar, admitindo suas dúvida à Irmã James, mas acredito que o filme seja muito válido e Amy Adms, principalmente, superou-se, tornando-se extramente visível pela sua notória interpretação.
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