segunda-feira, agosto 03, 2009

Ill Divo, de Paolo Sorrentino ****


“Gomorra” (2008) é um correto drama policial, mas está muito longe de ser “o” grande filme de máfia recente. Esse título é, inquestionavelmente, de “Ill Divo” (2008). A realidade, entretanto, é que tal produção italiana não é somente um drama sobre mafiosos. Esse é apenas um dos seus fascinantes aspectos, em um filme que também envolve intrigas políticas, comédia farsesca e uma ácida visão social da Itália contemporânea. Tendo como mote principal a biografia do Primeiro Ministro italiano Giulio Andreotti, focalizando principalmente o apogeu do seu poder político e a sua derrocada devido a escabrosos escândalos, o cineasta Paolo Sorrentino oferece um sombrio e sarcástico retrato dos bastidores da classe política italiana. Seu estilo de filmar barroco impressiona por variar dos tons realistas documentais até momentos quase surreais que beiram o grotesco. Sorrentino instaura no filme um ambiente de paranóia e pesadelo, temperado por um venenoso humor negro, ao mostrar os jogos de gato e rato entre Andreotti e seus asseclas com seus adversários, o que acaba deixando o espectador em constante tensão. As seqüências de ação que envolvem atentados e ataques da Máfia trazem aquela velha e bem vinda grandiloqüência operística tão características de obras como “O Poderoso Chefão” ou “Era Uma Vez na América”. Além disso, a interpretação de Toni Servillo no papel principal está em perfeita sintonia com o espírito do filme, numa composição dramática que dispensa o naturalismo e enfatiza o caricatural.

Evocando o excelente cinema político de cineastas como Elio Petri, “Ill Divo” é o melhor filme italiano que assisto em anos. Pode parecer exagero, mas é provável que qualquer um que assista a essa obra-prima possa ter essa impressão....

3 comentários:

Moacir disse...

Sr. Kleinert, já assistiu "A Desconhecida", do Tornatore? Achei superior ao filme do Sorrentino, que é cheio de "modismos", apesar de ser muito bom. Mais pra Luc Besson e David Fincher (ambos em seus bons momentos) que pra Elio Petri.

André Kleinert disse...

Sr. Moacir. Na minha opinião, não achei que "Ill Divo" estivesse cheio de "modismos". Até pelo contrário: considero que o Sorrentino até adotou um estilo clássico de filmar. Claro que ele adota alguns efeitos especiais, mas nada que pudesse enquadrá-lo como "modernoso". Em relação ao Elio Petri, o "Ill Divo" realmente me lembrou bastante a obra do Petri, principalmente por "Investigações Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita" e "Juízo Final", devido a combinação dos climas de paranóia e humor negro.
Não assisti a "A Desconhecida". O filme ficou pouco tempo em cartaz aqui em Porto Alegre (uma semana) e acabei perdendo. Vou ver se recupero em DVD. Apesar de que eu acho "Cinema Paradiso" e "Estamos Todos Bem" obras superestimadas.
Saudações,
André

Moacir disse...

Sr. Kleinert,

O Sorrentino me pareceu um cineasta datado. É uma relação pessoal com esse filme. Não senti relação real ao trabalho de Petri, com a exceção da temática. Claro que é impossível um filme italiano não ser comparado ao mestre. De qualquer maneira, não é desfeita ao filme do Sorrentino, só não me pareceu marcante, atemporal. Relação bem pessoal com a obra e uma expectativa exagerada que possuia, creio eu.

Concordo sobre os filmes de Tornatore. É um cineasta muito superestimado, nas obras erradas, mas "A Desconhecida" é um filme que vai pelos caminhos formais de seus melhores filmes como "O Professor do Crime" e "Uma Simples Formalidade". A partitura de Morricone é uma das melhores da década.