“Gomorra” (2008) é um correto drama policial, mas está muito longe de ser “o” grande filme de máfia recente. Esse título é, inquestionavelmente, de “Ill Divo” (2008). A realidade, entretanto, é que tal produção italiana não é somente um drama sobre mafiosos. Esse é apenas um dos seus fascinantes aspectos, em um filme que também envolve intrigas políticas, comédia farsesca e uma ácida visão social da Itália contemporânea. Tendo como mote principal a biografia do Primeiro Ministro italiano Giulio Andreotti, focalizando principalmente o apogeu do seu poder político e a sua derrocada devido a escabrosos escândalos, o cineasta Paolo Sorrentino oferece um sombrio e sarcástico retrato dos bastidores da classe política italiana. Seu estilo de filmar barroco impressiona por variar dos tons realistas documentais até momentos quase surreais que beiram o grotesco. Sorrentino instaura no filme um ambiente de paranóia e pesadelo, temperado por um venenoso humor negro, ao mostrar os jogos de gato e rato entre Andreotti e seus asseclas com seus adversários, o que acaba deixando o espectador em constante tensão. As seqüências de ação que envolvem atentados e ataques da Máfia trazem aquela velha e bem vinda grandiloqüência operística tão características de obras como “O Poderoso Chefão” ou “Era Uma Vez na América”. Além disso, a interpretação de Toni Servillo no papel principal está em perfeita sintonia com o espírito do filme, numa composição dramática que dispensa o naturalismo e enfatiza o caricatural.
Evocando o excelente cinema político de cineastas como Elio Petri, “Ill Divo” é o melhor filme italiano que assisto em anos. Pode parecer exagero, mas é provável que qualquer um que assista a essa obra-prima possa ter essa impressão....
Evocando o excelente cinema político de cineastas como Elio Petri, “Ill Divo” é o melhor filme italiano que assisto em anos. Pode parecer exagero, mas é provável que qualquer um que assista a essa obra-prima possa ter essa impressão....
3 comentários:
Sr. Kleinert, já assistiu "A Desconhecida", do Tornatore? Achei superior ao filme do Sorrentino, que é cheio de "modismos", apesar de ser muito bom. Mais pra Luc Besson e David Fincher (ambos em seus bons momentos) que pra Elio Petri.
Sr. Moacir. Na minha opinião, não achei que "Ill Divo" estivesse cheio de "modismos". Até pelo contrário: considero que o Sorrentino até adotou um estilo clássico de filmar. Claro que ele adota alguns efeitos especiais, mas nada que pudesse enquadrá-lo como "modernoso". Em relação ao Elio Petri, o "Ill Divo" realmente me lembrou bastante a obra do Petri, principalmente por "Investigações Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita" e "Juízo Final", devido a combinação dos climas de paranóia e humor negro.
Não assisti a "A Desconhecida". O filme ficou pouco tempo em cartaz aqui em Porto Alegre (uma semana) e acabei perdendo. Vou ver se recupero em DVD. Apesar de que eu acho "Cinema Paradiso" e "Estamos Todos Bem" obras superestimadas.
Saudações,
André
Sr. Kleinert,
O Sorrentino me pareceu um cineasta datado. É uma relação pessoal com esse filme. Não senti relação real ao trabalho de Petri, com a exceção da temática. Claro que é impossível um filme italiano não ser comparado ao mestre. De qualquer maneira, não é desfeita ao filme do Sorrentino, só não me pareceu marcante, atemporal. Relação bem pessoal com a obra e uma expectativa exagerada que possuia, creio eu.
Concordo sobre os filmes de Tornatore. É um cineasta muito superestimado, nas obras erradas, mas "A Desconhecida" é um filme que vai pelos caminhos formais de seus melhores filmes como "O Professor do Crime" e "Uma Simples Formalidade". A partitura de Morricone é uma das melhores da década.
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