Tentar entender ou explicar “Fata Morgana” (1970) como um documentário a retratar o coração e alma da África seria impreciso. Aparentemente, não há um roteiro linear que ajude ao espectador a compreender o que seria a “trama” do filme. São imagens e sons que se sucedem e combinam, com sucessivos planos seqüências, de forma um tanto aleatória. O que era para ser cinema verdade acaba se tornando uma espécie de divagação existencial e estética a refletir um estado espiritual. Herzog demonstra olhar fascinado sobre o exotismo e mistério que rondam o continente africano, mas não transforma sua produção em algo de caráter didático ou de exaltação para gringo ver. Seu registro é de tintas impressionistas, em que mesmo o flagra da “verdade”, de acordo com a concepção formal do diretor, adquire, por vezes, o viés do irreal e do atemporal, sensação essa que é reforçada ainda mais por uma trilha sonora climática, marcada por temas típicos de rock progressivo setentista na linha kraut rock. Também permeia “Fata Morgana” a característica forma de Herzog retratar a natureza: sua abordagem não é de deslumbre ecológico, mas sim de um temor em relação ao desconhecido que emana daquelas paisagens inóspitas. Tal visão, por sinal, continuou a ser explorada em obras posteriores e fundamentais do diretor (“Aguire”, “Fitzcarraldo”, “O Homem Urso”).
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