Voltando a uma de suas temáticas favoritas, a relação conturbada entre o homem e a natureza, o diretor Werner Herzog oferece um retrato perturbador da obsessão humana no documentário “O Diamante Branco” (2004). Nos momentos iniciais, predomina um certo detalhamento técnico das minúcias que envolvem o projeto do protagonista Graham Dorrington, um engenheiro aeronáutico que projeta e constrói um dirigível com o objetivo de filmar uma floresta da América do Sul. Com o desenrolar da produção, entretanto, Herzog insere sutilmente elementos pessoais dos principais envolvidos na operação, extraindo depoimentos e situações que refletem um choque entre conflitos intimistas com a dimensão épica da jornada de Graham. Fica estabelecida uma metáfora poética: quanto mais avançam na floresta e procuram fazer com que o dirigível alce vôo, mais revelam e se aprofundam sobre as razões de se envolverem em empreitada tão difícil. Além disso, o cineasta mostra a sua habitual e particular forma de retratar ambientes nativos, num misto de admiração e temor perante o desconhecido. No geral, o registro de Herzog em “O Diamante Branco” até evoca uma das suas mais obras mais comentadas no gênero documentário, “Fata Morgana” (1970), com o real se transmutando em imagens que até ganham conotações oníricas – afinal, o diamante branco do título é uma comparação entre o formato da aeronave em questão no ar com aquele da pedra preciosa que por muitos anos era encontrada na Guiana Francesa, local onde a obra foi filmada.
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