quinta-feira, setembro 01, 2011

Balada do Amor e do Ódio, de Alex de la Iglesia ****



As concepções particulares cinematográficas de Alex de la Iglesia atingem sua ebulição máxima em “Balada do Amor e do Ódio” (2010). Se suas produções sempre trafegaram num limite entre o realismo e o estilizado, nesta obra mais recente o diretor arrebenta com a mencionada fronteira e gera algo que parece advindo de um pesadelo ultra distorcido. Mesmo o franquismo, já bastante abordado em outros exemplares do cinema espanhol, recebe uma conotação perturbadora. Iglesia joga com elementos históricos de forma sarcástica, inserindo figuras e fatos reais, como o próprio General Franco, em uma trama envolvendo guerra, ditadura, palhaços psicóticos, taras sexuais e outras esquisitices. No meio disso tudo, há uma série de referências que vão de “Freaks” (1932) de Tod Browning (não à toa, boa parte do roteiro se desenvolve em um circo) até o universo repleto de simbologias e onirismo de Alejandro Jodorowsky. O cineasta brinca com conceitos típicos de um imaginário cinematográfico obscuro (como atesta a figura dos clowns desfigurados e violentos), assim como desconcerta com uma atmosfera que oscila sem cerimônia entre a comédia ácida e o puro horror, isso sem falar da arrasadora abertura, em uma alucinada seqüência de guerra que se assemelha a um sonho sangrento. E talvez isso seja um dos pontos mais luminosos de “Balada do Amor e do Ódio” – o encadeamento dos fatos se configura como um delírio obscuro, ainda que para os personagens seja o “mundo real”. Esta caracterização de uma dimensão difusa se configura como a própria essência da obra de Iglesias.

Nenhum comentário: