segunda-feira, setembro 05, 2016

Loucas de alegria, de Paolo Virzi ***

Os responsáveis pela distribuição no Brasil da produção italiana “Loucas de alegria” (2016) deveriam se cuidar, pois a forma a forma escolhida para divulgar o filme em questão é pura propaganda enganosa. O cartaz e o título brasileiro sugerem uma comédia agridoce, repleta de edificantes lições de vida, daquelas que senhoras na terceira idade adoram para animar suas tardes. É bem provável que as velhinhas levem um belo susto quando assistirem de fato à obra do diretor Paolo Virzi. A trama até guarda uma estrutura típica de melodrama, resvalando por vezes no sentimentalismo. O que prevalece na maior parte do tempo da narrativa, entretanto, é uma encenação vigorosa e uma caracterização bastante crua e perturbadora de situações e personagens. Por trás do viés cômico, há um misto de sutileza e contundência ao retratar o comportamento humano tanto por parte das duas protagonistas com distúrbio mental quanto nos valores hipócritas daqueles que são envolvidos em suas confusões e desventuras. O registro formal concebido por Virzi tem um certo grau de perversidade, em que a direção de fotografia em determinados momentos privilegia um estilo cartão-postal de enquadramentos e iluminação, para logo em seguida enveredar em sequências de atmosfera entre o sujo e o sórdido. As atrizes que interpretam as personagens principais também representam outro ponto alto do filme – enquanto Valeria Bruni Tedeschi é pura exuberância alucinada, Micaela Ramazzotti cativa na sua síntese de doçura e violência, com a interação entre ambas apresentando uma dinâmica complexa, divertida e por vezes até assustadora, demonstrando notável sintonia com as próprias concepções artísticas de Virzi.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Ainda não pude assistir mas quero muito ver essa obra. Acompanhe no meu blog o mais novo especial com relação aos cursos de cinema que estou participando.