quinta-feira, setembro 01, 2016

A morte de J.P. Cuenca, de João Paulo Cuenca ***

Seria fácil enquadrar “A morte de J.P. Cuenca” (2014) como uma pretensiosa e desagradável egotrip de seu diretor/roteirista/principal ator João Paulo Cuenca. Não se trata especialmente de uma obra que traga cenas de grande apuro estético, e por vezes a aridez de seu formalismo pode até causar um certo enfado. Na sua mistura de elementos de encenações ficcionais e documentais, a produção parece buscar uma brecha dimensional específica, quase como se fosse um pesadelo se materializando de forma crua na realidade. Nessa particular concepção artística, a crise que envolve a identidade do autor, a do anônimo morto que tomou a sua identidade, tanto se aprofunda como uma perturbadora crise existencial como por uma espécie de radiografia social da degradação moral da cidade do Rio de Janeiro, cada vez mais gentrificada por desumanos condomínios de luxo que sugerem um apartheid social. Morbidez e ambiguidade são constantes na atmosfera do filme, fazendo com que a recriação do real vá se dissolvendo de forma progressiva e o elemento do delírio se torne cada vez mais presente, culminando no rito final de sexo e morte. Ainda que esse coquetel não seja dos mais palatáveis, é inegável também a capacidade de inquietar o espectador por parte de “A morte de J.P. Cuenca”.

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