sexta-feira, setembro 23, 2016

Samurai, de Gaspar Scheuer ***

É um fato curioso que a produção argentina “Samurai” (2012) tenha sido exibida dentro de uma mostra chamada Ciclo de Cinema Gauchesco, evento esse decorrente das comemorações da semana farroupilha. Isso porque essa última tem por escopo existencial a celebração hipócrita de valores reacionários e sexistas baseado na exploração da mão-de-obra barata de peões por parte de grandes estancieiros e na submissão da mulher, enquanto o filme do diretor Gaspar Scheuer propõe um olhar revisionista crítico de tal contexto histórico e comportamental. Para isso, a trama do filme traz como foco principal um aspecto insólito, a de imigrantes japoneses que se fixam nos pampas no final do século XIX, fugindo de perseguições políticas em seu país de origem, e acabam sendo oprimidos na terra estrangeira para onde se refugiaram. Num primeiro momento, a família do protagonista Takeo entra num dilema existencial, em que a herança cultural do avô samurai se mostra ameaçada diante da nova realidade em que se encontram. Com o desenvolvimento da história, entretanto, essa mesma tradição nativa começa a se revelar opressora no sentido de impedir uma visão mais ampla por parte dos indivíduos diante de uma situação sócio-econômica nova e conturbada. Acaba sendo estabelecida uma correlação entre as tradições nipônicas e gaúchas, mostrando de maneira sutil e contundente como o discurso oficial de valoração da bravura e de uma virilidade “macha” na realidade esconde um panorama de exploração e opressão social. Dentro dessa visão sombria e melancólica, Scheuer incorpora uma estética que revela um certo teor oriental na forma contemplativa com que articula sua narrativa, tanto em termos de atmosfera quanto em concepção visual.

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