segunda-feira, novembro 07, 2016

Canção da volta, de Gustavo Rosa de Moura **1/2

Os conceitos estéticos e existenciais de “Canção da volta” (2016) são consistentes e inquietantes. A trama que que trata das consequências práticas e sentimentais provocadas pelas crises de depressão de Julia (Marina Person) para sua família apresenta um subtexto desafiador no sentido de questionar os preceitos comportamentais de uma classe média dita civilizada e humanista. A concepção narrativa procura acompanhar esse caráter ousado do roteiro, valendo-se de uma estrutura temporal que por vezes se afasta do linear, como se mostrasse em sintonia com o caráter errático da personalidade da protagonista. O problema central da produção dirigida por Gustavo Rosa de Moura, entretanto, está numa encenação um tanto engessada e que não acompanha esse espírito libertário da história que é contada. Falta uma maior desenvoltura na interação dos atores com aquilo que é contado em cena, fruto de uma excessiva racionalização na hora de colocar as ideias em prática. Os melhores momentos da obra são aqueles em que a forma e o conteúdo encontram uma síntese mais livre e espontânea, vide a sequência em que Julia entra em uma espécie de transe e dança sozinha esbarrando pelos móveis da casa ou as tomadas das aulas de balé da personagem – tais trechos imagéticos conseguem apresentar uma carga simbólica forte apenas pelo vigor da ação e sintetizam melhor o espírito contestador de “Canção da volta”. Se o diretor tivesse mantido esse tipo de solução narrativa, talvez seu filme tivesse apresentado um resultado artístico semelhantes a produções memoráveis que versaram sobre temática semelhante como “Possessão” (1981) e “Melancolia” (2011).

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

No meu caso eu achei que faltou um pouco mais de presença da Marina, pois as poucas cenas que ela surge simplesmente coloca o filme no bolso