terça-feira, novembro 29, 2016

Menino 23: Infâncias perdidas no Brasil, de Belisário Franca ***

A premissa básica do argumento de “Menino 23: Infâncias perdidas no Brasil” (2016) pode fazer pensar até numa obra de cunho ficcional beirando o fantástico: nos anos 30, garotos negros órfãos são levados do Rio de Janeiro para uma grande fazenda do interior de São Paulo de propriedade de simpatizantes do integralismo e do nazismo e lá são submetidos a condições de escravidão. Ocorre, entretanto, que o filme dirigido por Belisário Franca é um documentário, ou seja, mostra fatos que realmente aconteceram, o que torna tudo ainda mais assustador e revoltante. A abordagem formal de Franca é simples e direta, utilizando depoimentos recentes, encenação discreta e registros audiovisuais de arquivo. A partir de tal recursos, o diretor consegue obter uma síntese narrativa eficiente e de impacto, conciliando de maneira precisa o aspecto histórico/didático, ao mostrar o contexto sócio-político do racismo naquele período, com o fator intimista/dramático, dando a palavra a dois homens que fizeram parte de tal “experimento” nefasto. A partir desse conjunto estético-temático, “Menino 23” traça um perfil complexo e contundente da trajetória do preconceito racial no Brasil, mostrando também como tal questão está intrinsecamente ligada aos mecanismos de opressão para perpetuação no poder de uma oligarquia econômica, evidenciando uma sintonia, dessa forma, com alguns fatos bem recentes da história do nosso país.

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