sexta-feira, janeiro 12, 2018

O jovem Karl Marx, de Raoul Peck **

Em tempos de domínio político de ideias fascistas e reacionárias, um filme como “O jovem Karl Marx” (2017) tem uma função cultural e humanista bastante relevante. Há um cuidado nessa produção dirigida por Raoul Peck em expor alguns dos principais fundamentos das teorias marxistas sócio-econômicas de maneira mais direta e acessível, sem um excessivo verniz acadêmico, além de contextualizar com alguma fidelidade histórica todo o contexto em que o protagonista do filme estava inserido ao criar alguns dos seus textos mais importantes. Peck também teve uma boa sacada ao colocar nos créditos finais cenas documentais de fundamentais fatos que marcaram os séculos XX e XXI, evidenciando como as ideias de Marx ainda têm forte ressonância nos dias atuais. O problema dessa cinebiografia, entretanto, é que sua formatação artística está bem distante do espírito libertário e de profundidade analítica que eram característicos de seu principal personagem. O filme se vincula a estética e narrativa excessivamente convencionais, dando a impressão em diversos momentos para o espectador de que está vendo algum telefilme careta qualquer, na linha dessas assépticas e derivativas minisséries globais. Até dá para entender que essa linha artística conservadora adotada tenha por intenção tornar a obra mais atraente para um grande público, vide ainda a caracterização idealizada da figura de Marx no filme. É de se convir também, todavia, que tal opção da produção lhe tira muito em termos de contundência formal e temática, deixando-lhe léguas de distância de obras-primas do cinema político panfletário como “O encouraçado Potenkim” (1925) ou “A batalha de Argel” (1966).

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