Elektra, de Rob Bowman ½ (meia estrela)
É impossível eu escrever sobre “Elektra”, de Rob Bowman, e não fazer algumas reminiscências pessoais. Para mim, como fissurado por quadrinhos, o período de 1983 a 1986 foi inesquecível devido a um gibi chamado Superaventuras Marvel, que justamente nessa época publicou no Brasil duas das séries em “comics” que mais me marcaram: a fase de John Byrne nos X-Men e o monumental trabalho realizado por Frank Miller no Demolidor. Esse último fez uma verdadeira revolução não só no personagem em si como nas cabeças dos leitores. Misturando as concepções cinematográficas de Will Eisner utilizadas em Spirit, influências de quadrinhos japoneses (nunca um gibi ocidental teve tantos ninjas!!) e uma ambientação mais realista e suja (boa parte das histórias se passava no submundo novaiorquino), Miller obteve um resultado fantástico, que parece melhorar cada vez mais com o passar dos anos. Nessa sua passagem pelo gibi do Demolidor, ele também criou uma das personagens mais fascinantes da história recente dos quadrinhos, Elektra, uma ninja mercenária que era o real grande amor de Matt Murdock, o alter-ego do herói cego. Elektra conquistou os leitores pela sua personalidade: bonita, sexy, amoral e violenta, uma anti-heroína bem distaste dos padrões de personagens femininas comportadas da Marvel e da DC. O apelo de Elektra era tão forte que rendeu ainda outros dois belíssimos trabalhos de Miller: a mini-série “Elektra Assassina” e a Graphic Novel “Elektra Vive”.
Na verdade, a versão cinematográfica de Elektra não surgiu pela primeira vez nessa produção de 2005, mas sim em “Demolidor”, a frustrante adaptação para a tela grande lançada em 2003 das aventuras do personagem-título, tendo também a gostosa Jennifer Garner no papel da ninja em questão. Mas se esse primeiro filme já não era grande coisa, essa continuação das aventuras de Elektra consegue a proeza de ainda ser pior. O problema não é o fato de não ser fiel aos quadrinhos originais. O chato mesmo é que tal produção não tem absolutamente nada do espírito das melhores aventuras da personagem principal, não se prestando nem mesmo como bom filme de ação. A começar por um roteiro que mais privilegia as angústias da protagonista do que a aventura em si, transformando a amoral e cínica Elektra dos gibis em uma chorona bunda-mole. Mas isso é só o começo. A trama vai ficando cada vez mais cretina quando se revela a missão de Elektra: proteger uma ninja mirim patricinha. Nesses momentos, somos obrigados a segurar o vômito...
Para completar a desgraça, nem as cenas de luta se salvam. Se você, caro leitor, está acostumado com o balé infernal que Miller arquitetava para os quebra-paus entre Elektra e Demolidor contra o Tentáculo (seita de ninjas maléficos), pode esquecer. O máximo que Bowman consegue fazer nas suas seqüências de ação é fazer as mesmas parecerem um vídeo-game dos mais vagabundos. Ele podia ter tomado umas aulas com o Tarantino naquelas magníficas coreografias de artes marciais executadas em “Kill Bill”.
Eu não sou um cara que costuma recomendar para que alguém não veja um filme. Por isso, assista “Elektra”. Nem que seja para testemunhar como é uma autêntica bomba cinematográfica.
3 comentários:
André, deste uma nota alta demais para essa bomba!!!
Caro Thomaz, um filme para ganhar um zero estrela tem de ser uma baita bomba, daquelas constrangedoras mesmos de assistir. Não é para qualquer um!! Tanto que nesse ano nos cinemas eu só consegui assistir dois filmes zero estrela com honras: "Edison" e "O Cerro do Jarau" (viva o Rio Grande do Sul!!).
Tu não viste 'A Maldição de Sanpaku'? Nota zero com honras...
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