sexta-feira, agosto 25, 2006


Primavera Para Hitler, de Mel Brooks ****

A II Guerra Mundial é um tema que já rendeu, e na verdade ainda rende, material para uma infinidade de produções cinematográficas. Há até aquela piada que pergunta o que seria do Oscar de melhor filme estrangeiro se não fosse tal evento histórico (o Brasil, inclusive, tentou entrar nessa onda ao tentar obter uma indicação com o amplamente malhado “Olga”). Apesar dessa quantidade absurda de filmes sobre o assunto, entretanto, raramente o tratamento sobre o tema fugiu de abordagem séria, dramática ou cerimoniosa. O que é compreensível, afinal é um assunto que mexe em algumas questões delicadas: racismo, genocídio, destruição, colaboracionismo, etc. Essa uniformidade freqüente na visão do cinema em relação a II Guerra criou um certo bode quando se fala em filmes sobre a mesma, pois logo se pensa em obras marcadas pela previsibilidade e o politicamente correto.

É na subversão dessa lógica conformista que está um dos grandes prazeres em assistir “Primavera Para Hitler”, o genial primeiro filme de Mel Brooks. A premissa de sua trama é simples e hilária: ao chegarem a conclusão de que um fracasso comercial pode lhes dar muito mais lucro que um sucesso devido a trambiques contábeis, dois produtores teatrais picaretas Max Bialystock e Leo Bloom (Zero Mostel e Gene Wilder, respectivamente) montam um musical de exaltação a Hitler e ao Nazismo na esperança de obterem um certo e almejado fiasco artístico e financeiro. Só que os seus planos acabam não sendo tão bem sucedidos assim... Por trás desse argumento insólito e bem humorado, esconde-se uma insuspeita perspectiva humanista de Brooks sobre a forma com que encaramos o nosso passado histórico. A perplexidade da platéia ao assistir à peça nazista remete a uma incapacidade de revermos fatos incômodos da história mundial sem recorrermos a paradigmas intocáveis ou temas tabus. Nesse sentido, é impressionante a atualidade do filme, lançado em 1968, tendo em vista a atual conjuntura mundial, em que criticar a agressiva política militarista de Israel e dos Estados Unidos representa o risco de ser taxado de anti-semita e terrorista.

Mas a perenidade de “Primavera Para Hitler” não se dá apenas pela sua parte temática. A obra-prima de Mel Brooks é um verdadeiro exemplo de concisão cinematográfica, conseguindo conciliar todas as loucuras do rocambolesco roteiro em compactos 90 minutos. Dessa forma, citar cenas de destaque chega a ser problemático, pois todas as suas seqüências são antológicas, desde o histérico primeiro encontro entre Bialystock e Bloom, passando pelos insanos ensaios da peça e chegando ao final com os nossos “heróis” na cadeira. Mas as sacadas brilhantes de Brooks não ficaram restritas aos seus aspectos cinematográficos, sendo que o próprio score da peça musicada nazista foi composto pelo cineasta, trabalho esse também magnífico, com canções que grudam para sempre no inconsciente cinéfilo.

É claro que ainda não se pode esquecer do fantástico trabalho de Mostel e Wilder. O cínico Bialystock e o tenso Bloom são personagens emblemáticos na história do gênero comédia devido a exuberante caracterização de seus respectivos intérpretes.

“Primavera Para Hitler” teve uma recente e bem sucedida refilmagem dirigida por Susan Stroman, cujo maior mérito foi ter estendido os números musicais (por sinal, tremendamente bem elaborados). Mas seria quase uma covardia comparar as duas versões. Afinal, a obra original de Brooks é uma verdadeira referência dentro da história do cinema, influenciando gerações e gerações de cineastas e parecendo cada vez melhor com o passar dos anos. Veja e confira!!

3 comentários:

El Thomazzo disse...

A obra original é uma comédia clássica, a refilmagem um belo musical inspirado numa comédia. Engraçado (a maneira politicamente incorreta que ele trata os homossexuais é cretiníssima), com belas músicas (do próprio Brooks), mas super marcado, uma transposição da peça teatral para o cinema com quase nenhuma adaptação. Tem seus momentos (como os pombos fazendo Heil Hitler), mas compará-lo ao original é maldade... duas coisas, Gene Wilder por Matthew Broderick e Zero Mostel por Nathan Lane...

André Kleinert disse...

Em relação ao tratamento aos homossexuais, destaco aquela pequena festinha na casa do diretor gay com direito a participação do Village People!!
Há pelo menos no elenco um personagem que na refilmagem ganhou um ator tão bom quanto no original: o dramaturgo nazista, sendo que o Will Ferrel está brilhante no filme mais recente.

Anônimo disse...

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