quinta-feira, novembro 23, 2006


O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee ****

O que mais se ouviu falar sobre “O Segredo de Brokeback Mountain” é que o mesmo se trata de um “faroeste gay”. Tal definição certamente é reducionista, mas traz a tona alguns aspectos interessantes.

Para começar, essa produção norte-americana de 2005 dirigida pelo cineasta chinês Ang Lee realmente pode ser enquadrada, pelo menos em parte, no gênero western, mesmo que temporão. O tom de sua narrativa é mais intimista, fazendo lembrar, nessa linha, obras como “Quando os Homens São Homens”, de Robert Altman, e “Mais Forte Que a Vingaça”, de Sidney Pollack. Como em tais filmes, Lee optou por uma visão mais naturalista e humana do mito do cowboy. Outro ponto de coincidências com esses filmes citados é a forma com que a natureza é registrada. Ao mesmo tempo que é realçada a beleza das paisagens, há um forte teor naturalista, em que o ambiente é visto de forma crua e selvagem. Vemos a natureza de uma forma majestosa e ao mesmo tempo assustadora. Esse paradoxo parece ser uma metáfora para a própria relação apaixonada e tempestuosa dos vaqueiros Ennie (Heath Ledger) e Jake (Jake Gyllenhaal).

Dizer que “O Segredo de Brokeback Mountain” tem como tema simplesmente um romance gay seria apenas enxergar a ponta do iceberg. É claro que o fato de uma relação homossexual ocorrer no meio do rústico e preconceituoso interior norte-americano faz surgir uma série de conflitos e dilemas para os personagens. Acredito, entretanto, que o tema principal do filme é ainda mais amplo. O que vemos em cena é um tema universal: a impossibilidade e a covardia dos indivíduos em romperem com aquilo que os oprimem. O que causa a infelicidade para Ennie não é o fato de ser gay, mas sim a sua incapacidade de tentar realmente fazer o que quer. O personagem passa todo o filme abrindo mão do que realmente deseja em nome do conforto de uma dita “normalidade” e de valores em que nem mesmo ele sabe se acredita. E quando finalmente percebe todo o mal que causou a si, já é tarde demais para remediar. Essa falta de redenção para o protagonista faz com que “O Segredo de Brokeback Mountain” tenha um dos finais mais tristes dos últimos anos. Aliás, a melancolia permeia toda a duração do filme e é ainda mais acentuada pela melodramática e magnífica trilha sonora.

A se destacar ainda o excelente trabalho de atuação de Heath Ledger. A caracterização que faz para Ennie é sensacional, chegando a lembrar em alguns momentos um John Wayne preste a explodir de frustração e raiva, mas que na maioria das vezes fica contido numa máscara de durão. As poucas cenas em que ele consegue desabafar emocionalmente são algumas das seqüências dramáticas mais impactantes de “O Segredo de Brokeback Mountain”.

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