terça-feira, janeiro 27, 2009

A Troca, de Clint Eastwood ***1/2


Quem for ao cinema para ver “A Troca” (2008) esperando algo do nível de “Os Imperdoáveis” (1992), “Sobre Meninos e Lobos” (2003) e “A Conquista da Honra” (2006) pode se decepcionar um pouco. O primeiro terço do filme, apesar de uma direção sóbria e classuda de Eastwood, parece excessivamente com aqueles dramas “baseado em fatos reais” que passavam direto no Supercine. Do tipo, “mulher determinada enfrenta os preconceitos de uma sociedade machista e sofre pra caramba”. Só que o velho Clint guardou um belo ás na sua manga, e lá pela metade de “A Troca” ele começa a desenvolver uma trama paralela que envolve um psicopata matador de crianças. Nessa segunda trama, o seu estilo filmar, seco e contundente, aliado a uma fotografia luminosa que contrasta de forma magnífica com o teor soturno da narrativa, dá uma nova dimensão para um roteiro convencional, fazendo com que se a trama se distancie do maniqueísmo simplório e desemboque numa arguta exploração sobre a crueldade humana.

É interessante também a forma com que Eastwood obtém interpretações dos atores que beiram o naturalismo, principalmente dos coadjuvantes. A aparente inexpressividade de alguns rostos que aparecem ao longo de “A Troca” é muito mais eloqüente, repleta de nuances e de um impacto dramático maior do que as interpretações “over” de Angelina Jolie e de John Malkowich.

O saldo final de “A Troca” é evidentemente positivo: mesmo distante de ter feito uma obra-prima, Clint Eastwood mostra um raro domínio da linguagem cinematográfica, provando que continua tranqüilo dentro do clube dos grandes do cinema norte-americano.

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