segunda-feira, outubro 03, 2011

Gasherbrum, de Werner Herzog ***1/2



A temática do documentário “Gasherbrum” (1984) pode lembrar algum episódio do Globo Repórter ou de um canal esportivo qualquer: dois alpinistas enfrentam dois grandes picos em apenas uma escalada. Se nos programas televisivos tal evento seria tratado como um exemplo de superação pessoal ou outra lição de vida edificante, nas mãos de Werner Herzog o mesmo acaba ganhando uma conotação bem diversa. Na visão pouco emocional do diretor alemão, o feito dos protagonistas é o retrato de uma obsessão e de desejos profundos que os envolvidos mal conseguem explicar. Não se trata de heroísmo, mas simplesmente de um beco sem saída existencial, em que a única alternativa restante na vida deles é escalar nas condições mais adversas possíveis. O método formal meticuloso e de distanciamento emocional de Herzog ao filmar encontra sintonia espiritual com a própria ambientação inóspita onde a produção se desenrola, e rende, pelo menos, uma seqüência antológica – aquela em que o diretor entrevista um dos aventureiros em questão sobre um episódio anterior em que o seu irmão, também alpinista, faleceu em uma escalada. O depoente mantém um tom sereno durante toda a narrativa que faz da sua tragédia pessoal, mas desaba em soluços quando indagado sobre como comunicou à sua mãe sobre o falecimento do outro filho. É avassalador o efeito do intimismo de tal manifestação em meio à crueza da abordagem até então praticada por Herzog. É como se não houvesse lugar para tais lágrimas naquele ambiente gélido.

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