quinta-feira, dezembro 08, 2011

Entre Segredos e Mentiras, de Andrew Jarecki ***



Em sua estreia em uma obra ficcional, o diretor Andrew Jarecki deixa claro sua origem documentarista. O seu estilo de filmar em “Entre Segredos e Mentiras” (2010) não traz nada de exageros visuais ou dramáticos e nem maiores arroubos formais. O cineasta prefere uma abordagem mais cerebral e discreta de um caso real que por si já seria escandaloso. Tal opção criativa acaba se revelando adequada ao evidenciar a gradual e verossímil degeneração moral e psíquica do protagonista David Marks (Ryan Gosling), ao mesmo tempo que a trajetória do personagem adquire um caráter simbólico de conto moral a retratar o vazio existencial e a hipocrisia comportamental da sociedade norte-americana na virada entre as décadas de 70 e 80. Por mais que as atitudes de David sejam odiosas e doentias, Jarecki consegue manter uma atmosfera de impessoalidade e destituída de maniqueísmos – a loucura do personagem parece adquirir uma certa coerência com o ambiente em que ele se situa. A estética que domina “Entre Segredos e Mentiras” também colabora para acentuar essa visão seca e objetiva de Jarecki, com uma fotografia de tons pálidos e narrativa que oscila com elegância entre o presente e o passado. De se destacar ainda a sólida composição interpretativa de Gosling no papel principal, marcando David com gestos sutis (mas reveladores) e um olhar assustador pela imprevisibilidade que esconde.

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