Quem acompanhou o rock de Brasília quando o mesmo despontou na primeira metade da década de 80 sabe que as principais bandas de tal movimento não se destacaram especialmente pela técnica ou criatividade musical. O que houve naquele momento histórico foi uma conjunção de fatores específicos, indo desde a conjuntura econômico-social-política daquela época (os anos finais da ditadura e o começo da Nova República), passando pelo carisma e talento de Renato Russo e chegando na persistência e garra de alguns integrantes em particular. O grande acerto inicial do documentário “Rock Brasília – Era de Ouro” (2011) está em justamente não se concentrar nos méritos artísticos/musicais das bandas. O diretor Wladimir Carvalho busca um enfoque muito mais abrangente, sabendo evidenciar com precisão o contexto histórico de surgimento destes grupos, relacionando a vida de seus membros à própria evolução cultural da cidade (afinal, boa parte deles era filho de uma classe média alta que era base da vida econômica de Brasília – professores, burocratas, diplomatas). Os depoimentos colhidos são reveladores das variantes particulares que propiciaram a ascensão, apogeu e queda das bandas (e no caso do Capital Inicial, a volta improvável a um apogeu comercial ainda maior!). Carvalho mostra a veia apurada de documentarista ao saber extrair com sabedoria o essencial de cada entrevista, formatando de acordo com a sua proposta artística e conceitual. O fecho do filme é exemplar desta capacidade, em que as palavras e choro inesperados do pai dos irmãos Fê e Flávio Lemos do Capital Inicial sintetizam o espírito errático tanto do grupo em questão quanto do próprio movimento roqueiro oitentista brasiliense.
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