A obra do documentarista Silvio Tendler sempre foi marcada pelo questionamento social e político, às vezes até beirando o panfletário. Na maioria das oportunidades, entretanto, o cineasta teve um elogiável cuidado formal com os seus filmes – o espectador podia não concordar com o teor ideológico do que estava sendo dito, mas reconhecia a dinâmica narrativa de Tendler, sua capacidade de criar tensão e prender a atenção de quem assiste às suas produções. Em “O Veneno Está na Mesa” (2011), essa combinação entre conteúdo e forma não fica bem equacionada. Por mais relevantes que sejam as denúncias levantadas no documentário, o excessivo tom jornalístico torna tudo arrastado e sonolento. O filme se concentra quase que apenas em depoimentos, com o diretor deixando de explorar alguns detalhes de ambientação que poderiam enriquecer a sua proposta (principalmente o aspecto de isolamento dos colonos que se recusam a usar agrotóxicos em sua lavoura – fica apenas levemente esboçado que tal atitude venha de uma possível condição cultural/étnica). É claro que “O Veneno Está na Mesa”, na sua essência, tenha mais preocupações educacionais e informativas do que um comprometimento com o lado “artístico”, mas talvez uma concepção cinematográfica menos dura tornasse a sua mensagem mais universal.
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