quarta-feira, janeiro 13, 2016

Frank, de Lenny Abrahamson ***

Na maioria das vezes, quando aparece um filme cuja trama, fictícia ou não, trata da trajetória artística de um músico ou uma banda, o enfoque principal é se os protagonistas fizeram muito sucesso ou não, mostrando ainda os efeitos da fama e do dinheiro sobre a vida de tais personagens. Em boa parte dessas mesmas produções, a música parece ter um caráter quase secundário, como se fosse uma coadjuvante diante das agruras sentimentais e até mesmo financeiras dos artistas. Como não esquecer, por exemplo, da ode ao arrivismo que era o lastimável “Dois filhos de Francisco” (2005)? Diante desse quadro, a comédia dramática “Frank” (2014) se mostra uma saudável exceção. Para o personagem-título (Michael Fassbender), líder de uma esquisitíssima banda de rock underground, seguir a sua inspiração/musa e ser coerente com suas particulares concepções musicais é fundamental não só para a qualidade de suas canções como para manter o seu frágil equilíbrio mental. Se o público, crítica e curadores de festivais vão gostar não é para ele exatamente o que importa. O ponto de conflito do filme é justamente quando entra em seu grupo Jon (Domhnall Gleeson), um jovem músico com fortes pretensões de sucesso e prestígio que acaba desagregando a banda e colocando Frank em uma pressão emocional que o leva à loucura. A possibilidade de que às coisas voltem ao “normal” para o protagonista está justamente na recuperação do caráter insólito e pouco acessível da sua arte. O diretor Lenny Abrahamson conduz a narrativa como uma espécie de conto moral agridoce, que oscila entre o realismo melancólico e uma ambientação delirante (principalmente em alguns ótimos números musicais em que Frank e sua trupe dão vazão a estranhos temas misturando melodias e barulhos poucos usuais), fazendo um belo e melancólico tributo a loucos, obscuros e genais bardos do rock and roll como Syd Barret, Daniel Johnston e Billy Childish.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Esquisito mas não menos genial