terça-feira, janeiro 19, 2016

Steve Jobs, de Danny Boyle ***1/2

Aqueles que são detratores de Steve Jobs, ou mesmo aqueles que simplesmente não se importam com a figura em questão, podem até questionar se ele é tão importante ou interessante assim a ponto de receber duas cinebiografias no curto espaço de dois anos. Mas se “Jobs” (2013) era apenas uma obra oportunista e sem inspiração a retratar a vida do célebre e polêmico criador e CEO da Apple, esse “Steve Jobs” (2015) é bem mais interessante como produto cinematográfico. Para começar, só o nome de Danny Boyle na direção já faria o espectador dar uma atenção especial para a produção. E o cineasta não se fez de rogado, construindo uma estrutura narrativa fascinante. Boyle não optou por soluções estéticas e temáticas óbvias, e nem mesmo sua abordagem pode ser enquadrada na simples linguagem naturalista. Talvez a referência artística que mais venha à mente seria algumas produções delirantes de Fellini, com destaque para “Oito e meio” (1963). A maioria da ação da trama se concentra nos bastidores de eventos de lançamentos de produtos criados por Jobs, e dessa forma boa parte das pessoas que fizeram parte da vida do protagonista (familiares, amigos, parceiros de trabalho, desafetos) circula nesses ambientes frenéticos e tensos, fazendo com que a interação entre Jobs (Michael Fassbender) e tais personagens seja marcada por ressentimentos e discussões acaloradas. Intercaladas com essas sequências são mostrados flashes de noticiários e fragmentos de memórias, como se houvesse uma contraposição entre o discurso oficial “laudatório” sobre Jobs e a realidade bem menos idealizada que o cercava. O roteiro do filme contempla com fidelidade a complexidade dos fatos, não caindo em maniqueísmos ou simplificações, e acaba demonstrando uma sintonia existencial e artística com “A rede social” (2010), no sentido de também ser uma espécie de crônica da moral e dos costumes desse milênio marcado pela virtualidade e pelo efêmero. O formalismo barroco concebido por Boyle, repleto de trucagens criativas e uma atmosfera que remete por vezes ao onírico, torna essa saga sensorial sobre tecnologia, dinheiro, poder e alienação ainda mais memorável e perturbadora.

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