sexta-feira, outubro 07, 2016

Corrida sem fim, de Monte Hellman ****

“Sem destino” (1969) é considerada como a obra fundamental do cinema a marcar o movimento da contracultura nos anos 60. A obra-prima de Denis Hopper ajudou a definir um estilo mais libertário de filmar e também uma abordagem temática contestadora dos valores e preconceitos pequeno-burgueses da sociedade ocidental, além de ajudar a construir o mito da estrada como uma espécie de reflexo de questionamentos existenciais. Ainda que mais obscura, a produção norte-americana “Corrida sem fim” (1971) aprofunda ainda mais esses preceitos artísticos de “Sem destino”. O diretor Monte Hellman delineia a sua narrativa de forma minimalista – em contraponto às corridas alucinadas que permeiam a trama, os “bastidores” que às envolvem tem uma caracterização dramática contemplativa e melancólica, enfatizando silêncios e diálogos algo elípticos. A estética na concepção visual obedece a uma estranha síntese entre o clássico e a concisão, em que direção de fotografia investe em enquadramentos que tanto dão uma ideia de imensidão épica das paisagens interioranas dos Estados Unidos quanto de melancolia e desolação, como se fosse uma espécie de atualização desolada dos faroestes de John Ford. Tal moldura formal revela uma sintonia extraordinária com o sutil subtexto do roteiro que enfatiza a sensação de inadequação e impossibilidade de aceitação das regras de convívio social por parte dos personagens desajustados que povoam a trama. Aliás, as atuações icônicas de James Taylor, Dennis Wilson e Warren Oates nos papeis de tais figuras outsiders representam outro ponto alto de verdadeira pérola escondida da filmografia norte-americana.

Nenhum comentário: