terça-feira, outubro 18, 2016

Nosso fiel traidor, de Susanna White ***

Dentro do universo das adaptações cinematográficas de obras literárias do escritor John Le Carré, “Nosso fiel traidor” (2015) está longe do brilhantismo de produções extraordinárias como “O alfaiate do Panamá” (2001) e “O espião que sabia demais” (2011), mas também não chega perto de induzir ao sono como “A casa da Rússia” (1990) e “O homem mais procurado” (2014). O filme da diretora Susanna White até começa um pouco claudicante, principalmente na breguice da sua sequência de abertura e também por uma encenação soando excessivamente mecânica. Com o desenrolar da narrativa, entretanto, a fórmula estética-temática ganha mais corpo e a tensão se mostra mais efetivamente presente. Os truques do roteiro são óbvios, típicos das tramas de espionagem de Le Carré, mas são desenvolvidos com eficiência e convicção. A direção de fotografia valoriza o exotismo e beleza dos cenários cosmopolitas e paisagens naturais que aparecem ao longo da história, há uma atmosfera que alterna habilmente entre a elegância contida e a leve sensualidade, prepondera um clima constante de mistério e suspense que provoca algum frio no estômago do espectador e algumas cenas guardam um poder imagético forte na sua simbologia (a sequência final com o protagonista Perry Makepeace andando na contramão de uma pequena multidão é um achado). No mais, as boas atuações carismáticas de Ewan McGregor, Stellan Skarsgard e Damian Lewis acentuam a notável sobriedade formal de “Nosso fiel traidor”.

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