Dentro do universo das adaptações cinematográficas de obras
literárias do escritor John Le Carré, “Nosso fiel traidor” (2015) está longe do
brilhantismo de produções extraordinárias como “O alfaiate do Panamá” (2001) e “O
espião que sabia demais” (2011), mas também não chega perto de induzir ao sono
como “A casa da Rússia” (1990) e “O homem mais procurado” (2014). O filme da
diretora Susanna White até começa um pouco claudicante, principalmente na
breguice da sua sequência de abertura e também por uma encenação soando
excessivamente mecânica. Com o desenrolar da narrativa, entretanto, a fórmula
estética-temática ganha mais corpo e a tensão se mostra mais efetivamente
presente. Os truques do roteiro são óbvios, típicos das tramas de espionagem de
Le Carré, mas são desenvolvidos com eficiência e convicção. A direção de
fotografia valoriza o exotismo e beleza dos cenários cosmopolitas e paisagens
naturais que aparecem ao longo da história, há uma atmosfera que alterna
habilmente entre a elegância contida e a leve sensualidade, prepondera um clima
constante de mistério e suspense que provoca algum frio no estômago do
espectador e algumas cenas guardam um poder imagético forte na sua simbologia
(a sequência final com o protagonista Perry Makepeace andando na contramão de
uma pequena multidão é um achado). No mais, as boas atuações carismáticas de
Ewan McGregor, Stellan Skarsgard e Damian Lewis acentuam a notável sobriedade
formal de “Nosso fiel traidor”.
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