quinta-feira, outubro 13, 2016

Lua em sagitário, de Márcia Paraíso *1/2

No meio de um cenário sócio-político tão conturbado como o atual, em que preconceitos e hipocrisias cada vez mais afloram com força, não deixa de ser salutar que um filme como “Lua em sagitário” (2015) apareça nos cinemas, principalmente pelo conteúdo de sua parte temática. A obra apresenta um retrato positivo e humano sobre os movimentos sociais, sempre tão marginalizados na visão da mídia oficial, além de procurar uma perspectiva mais sensível sobre os dilemas da adolescência feminina e que fuja de parâmetros óbvios e conservadores. E há uma cena em particular que surpreende pela contundência textual que é aquela do discurso do jovem Murilo (Fagundes Emanuel) sobre as raízes do conflito de classes na sociedade brasileira, um tema tabu dentro do cotidiano de novelas e noticiários pasteurizados da maioria das pessoas. O grande problema da produção dirigida por Márcia Paraíso é que a ousadia de sua temática não é acompanhada por uma construção narrativa e por um formalismo de relevo. A cineasta se acomoda em adequar a trama dentro de um formato de comédia dramática estilo “boy meets girl” pouco convincente e de encenação precária. Por diversas oportunidades, a impressão que se tem no desenvolvimento de situações e personagens é de uma rígida e superficial linguagem presa a estereótipos que retira muito da vida e desenvoltura da narrativa, fazendo tudo parecer um teatro escolar ou amador (qualquer cena que envolva os pais da protagonista Ana, por exemplo, é constrangedora na sua formatação simplória). Há uma sequência em que “Lua em sagitário” até dá uma ideia de que poderia ter sido uma experiência bem mais interessante como cinema que é quando Ana e Murilo ficam hospedados na casa de um velho casal hippie interpretado por Elke Maravilha e Serguei – os toques de lisergia e sensualidade na atmosfera de tais tomadas são meio esquisitas, mas apresentam muito mais vida e desafio existencial/artístico do que em todo o resto do filme. E há outros elementos positivos na obra: a garota Manuela Campagna tem uma forte presença cênica e a trilha sonora é repleta de ótimas canções nos gêneros pop e rock. Tais aspectos, entretanto, estão longe de salvar “Lua em sagitário” e apenas reforçam a expectativa frustrada de que a produção poderia ter sido muito melhor.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Pena, pois andei ouvindo bastante até deste filme