quinta-feira, fevereiro 09, 2017

Armas na mesa, de John Madden ***

Talvez o grande acerto artístico do diretor John Madden para “Armas na mesa” (2016) foi a escolha de Jessica Chastain para o papel da protagonista Elizabeth Sloane. A atriz tem uma forte presença cênica, dominando o filme de ponta a ponta com uma interpretação repleta de nuances dramáticas. Esse fator faz com que alguns convencionalismos excessivos do formalismo concebido por Madden e os exageros simplistas de passagens do roteiro acabem sendo atenuados. A obra se pretende como uma visão crítica sobre os bastidores da política norte-americana e do conservadorismo e hipocrisia de grande parte da sociedade dos Estados Unidos, principalmente no que diz respeito à irresponsável legislação sobre armas que permite eventos bárbaros como massacres em escolas e atentados terroristas. Por vezes, a trama consegue traçar um retrato contundente sobre a forma como moralismo cego e interesses políticos e econômicos escusos se fundem e geram um distorcido status quo. Ou seja, uma abordagem em perfeita sintonia com o nosso tempo, considerando que Donald Trump se encontra no comando da Casa Branca. Falta à produção, entretanto, um senso narrativo e um delineamento de história mais ousados. Os arroubos melodramáticos do roteiro e a assepsia estética de algumas sequências só conseguem se sustentar com um mínimo de credibilidade pela atuação cheia de convicção de Chastain e pelo caráter simbólico de determinadas situações da trama (principalmente pelo fato das escolhas de Sloane a levarem à cadeia e execração pública funcionarem como uma espécie de expiação pessoal deliberada da personagem).

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