segunda-feira, abril 24, 2017

John From, de João Nicolau ***1/2

A analogia pode soar forçada e simplista para alguns, mas a produção portuguesa “John From” (2015) faz pensar na hipótese bastante imaginária de que alguma produção clássica oitentista dirigida por John Hughes fosse refilmada sob a batuta surrealista de Luis Buñuel. Em um primeiro momento, a concepção estética-temática dessa produção do cineasta João Nicolau se vincula a um estilo realista, ao retratar o cotidiano da adolescente Rita (Júlia Palha) marcado pelos dilemas e delícias inerentes à sua idade. A partir do momento em que a personagem se descobre apaixonada pelo vizinho mais velho, de forma progressiva elementos de cinema fantástico vão se inserindo de maneira sutil na narrativa. É como se o imaginário da garota se tornasse a principal perspectiva daquilo ao que o espectador assiste. Nesse sentido, signos do mundo contemporâneo se misturam a referências passadistas com uma naturalidade insólita e encantadora, além de nuances do roteiro que poderiam soar estapafúrdias acabam adquirindo uma estranha e coerente lógica. Nesse sentido, a obsessão com fatos históricos e povos exóticos que permeiam a trama aludem ao conturbado passado colonialista de Portugal. Dentro desse particular ideário artístico-existencial, é um dado fundamental de “John From” a ambígua encenação encadeada por Nicolau, que se vale de uma fascinante síntese entre o libertário e o solene.

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