segunda-feira, abril 10, 2017

Para sempre, de Juan Zapata 1/2 (meia estrela)

Ainda que marcada por uma narrativa irregular, “Simone” (2013) demonstrava evolução dentro da filmografia do diretor Juan Zapata. Podia-se perceber na produção mencionada algumas inquietações estéticas e mesmo uma certa ambiguidade na abordagem emocional de sua temática. Em “Para sempre” (2016), o cineasta parece voltar à estaca zero ao se limitar a revolver de maneira nada inspirada clichês narrativos de melodrama barato. Nos dez minutos iniciais do filme ele já delimita, e esgota, todo o seu arcabouço formal e textual – em uma trama envolvendo perda e trauma, haverá uma variação nos planos temporais (presente e passado) a indicar um processo de aceitação e aprendizado de uma viúva (Daniela Escobar). Nada contra a opção por usar elementos convencionais na narrativa. O grande problema é que truques e recursos estéticos são jogados na tela de maneira mecânica e sem criatividade. E a noção de construção de uma jornada existencial é bastante rasteira, pois “Para sempre” emula uma síntese de literatura de autoajuda e ficção romântica banal. Pode-se até perceber uma intenção de sofisticação visual, principalmente pela trama se situar em algumas fotogênicas cidades europeias. Acaba ficando só na tentativa mesmo, pois o registro de Zapata nesses cenários fica limitado a uma concepção imagética de cartão postal. Esse aspecto, inclusive, é emblemático do grande equívoco artístico-existencial de “Para sempre”, em que Zapata parece se deslumbrar com alguns signos de pretensos requinte e profundidade psicológica e se adequa a um comodismo de retratar de forma asséptica e sem vigor a “alma” de uma típica dondoca pequeno-burguesa, impressão reforçada pela interpretação canastrona de Daniela Escobar. Nesse sentido, a obra de Zapata parece uma derivação da franquia “50 tons de cinza” no uso de um formalismo “publicitário” e na caracterização sentimental estilo “romances Sabrina” atualizado.

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