O olhar feminino da diretora Maïwenn domina a narrativa de “Meu
rei” (2015) e é quem dá o seu efetivo e contundente sentido
artístico-existencial. Dentro da relação disfuncional que se estabelece entre o
casal Tony (Emmanuelle Bercot) e Georgio (Vincent Cassel), marcada pelo
comportamento opressor e abusivo por parte do segundo, a perspectiva que sempre
fica evidente para o espectador é a da protagonista. A violência física, moral e
psicológica a que fica submetida não se vincula a uma explicação para o
comportamento do companheiro. Sendo um desvio de teor psiquiátrico ou
simplesmente uma questão de caráter, o que interessa para o filme é explicitar
o processo de desagregação de Tony sob o jugo da dominação patriarcal/machista
de Georgio e também o doloroso percurso para que saia dessa relação doentia.
Esse viés subjetivista da narrativa é acertado no sentido de que acentua a
tensão sufocante que representa o cotidiano da personagem e sua busca por
libertação pessoal, ao mesmo tempo que caracteriza com precisa sutileza um lado
perversamente perturbador no relacionamento entre os dois: se há algo que beira
a psicose brutalizante no comportamento de Georgio, também há um lado sedutor
no grande carisma que ele exala em alguns momentos da trama. Essa confusão de
sentimentos é atordoante para que assiste ao filme e, de certa forma, é como
jogasse o espectador para dentro da própria mente de Tony. Esse forte grau de
empatia de “Meu rei” também tem como responsáveis as atuações vigorosas de
Bercot e Cassel.
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