segunda-feira, junho 04, 2018

Amante por um dia, de Philippe Garrel ***1/2


O cinema do diretor francês Philippe Garrel obedece a um fluxo narrativo muito particular. Isso é bastante evidente em “Amante por um dia” (2017). A partir de uma premissa simples de roteiro, situações e personagens se desenvolvem de uma maneira fluída, não obedecendo a maniqueísmos morais e fórmulas estéticas. A encenação valoriza os gestos do cotidiano, as reações imprevisíveis, a sutil expressividade dos olhares dos atores. A atmosfera até remete a um certo tom solene ao esmiuçar a jornada intimista dos personagens, principalmente no que sugere a combinação de uma voz de narração de traço e texto quase literário e os discretos e românticos temas musicais incidentais, mas há uma ágil e moderna desenvoltura na forma com que as coisas se desenrolam em cena. Se as sequências envolvendo diálogo revelam delicadeza e sobriedade na sua condução e ambientação, nas ótimas cenas de sexo há uma intensidade visceral na coreografia dos corpos, como se sugerisse uma contundente contraposição entre a racionalidade do discurso amoroso/intelectual com a crueza carnal do coito. Ao longo da narrativa, essa concepção artística de Garrel vai configurando uma coerência formal e textual contundente, até chegar a uma conclusão que desconcerta o espectador ao dispensar arroubos emocionais e moralismos fáceis. Para Garrel, o que existe na vida e na arte é simplesmente o destino que ignora crenças e regras sentimentais dos indivíduos que rege.

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