quarta-feira, junho 20, 2018

O caminho dos sonhos, de Angela Schanelec ***


O ascetismo estético e moral que foi a grande marca do cinema do diretor francês Robert Bresson paira de maneira constante na narrativa de “O caminho dos sonhos” (2016). A cineasta alemã Angela Schanelec reduz o formalismo de seu filme ao essencial, formatando um austero conto moral pontuado por uma bela direção de fotografia e uma montagem sóbria. Dentro desse direcionamento artístico, não há grandes arroubos criativos ou sensoriais na obra, o que por vezes torna assistir à produção uma experiência um tanto árida. De qualquer, tal abordagem acaba se revelando adequada para o tom de desilusão amarga do roteiro. Schanelec consegue estabelecer de maneira coerente e profunda algumas ideias complexas em termos de construção psicológica das situações e dos personagens. Por vezes, até se tem a impressão que a aleatoriedade predomina sobre a narrativa e a trama, mas as ligações existenciais entre os fatos e criaturas da história vão se estabelecendo de maneira sutil. Nesses termos, até mesmo os aspectos temporais se interligam a partir de um conceito que se defini com fluidez – é como se os dilemas sócio-políticos em 1984, época da primeira parte do filme, tivessem recebido apenas pequenas variações em 2014, na metade final da trama, e ao mesmo tempo todas as contradições e perturbações pessoais que assolam os principais personagens pouco mudassem com os passar dos anos e o avanço da maturidade. Esse fatalismo até se evidencia como algo óbvio, mas ainda assim tem um caráter perturbador para o espectador. Nessa contraposição entre o previsível e o incômodo reside a efetiva transcendência artística de “O caminho dos sonhos”.

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