segunda-feira, julho 16, 2018

Hannah, de Andrea Pallaoro ***


O diretor italiano Andrea Pallaoro exerce em “Hannah” (2017) um rigoroso exercício de estilo estético/existencial. A premissa do roteiro é objetiva e quase espartana em seus desdobramentos – a austera rotina de Hannah (Charlotte Rampling) a partir da prisão de seu marido. O crime e as suas circunstâncias que levaram à condenação de seu companheiro são expostos ao longo da narrativa em sutis nuances de gestos, expressões faciais e econômicos diálogos. Para Pallaoro, além da exposição do cotidiano desolador da protagonista, há um interesse primordial na forma com que os elementos da trama se apresentam ao espectador. É quase como se fosse um desafio contemplativo do cineasta em relação ao seu público – o entendimento pleno do que se viu na tela vem apenas na conclusão do filme, e mesmo assim sem um tom de grande revelação dramática. A “solução” para os aparentes mistérios sugeridos na trama é simples, ainda que perturbadora. Não há julgamento moral sobre as atitudes dos personagens, apenas uma atmosfera resignada de fatalismo e inexorabilidade no destino dos indivíduos. Fica estabelecida uma relação simbiótica entre os ascetismos da vida de Hannah e do formalismo sem concessões de Pallaoro. Nessa cerebral concepção artística, ainda que coerente com o aludido exercício de estilo do diretor, não há muito espaço para grandes arroubos sensoriais. A fresta de maior transcendência que se abre é uma poderosa interpretação dramática da atriz principal. Charlotte Rampling domina toda a narrativa com uma sensacional atuação marcada pela contenção de sentimentos e que por vezes explodem em violentas manifestações emocionais. É como se observássemos um prédio ruindo em câmera lenta.

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