terça-feira, agosto 07, 2018

Anjos da noite, de Wilson Barros ***


Há filmes que são quase que indissociáveis da época em que foram realizados. A produção brasileira “Anjos da noite” (1987) é um desses casos. Nos anos 80, havia uma vertente no cinema nacional, principalmente oriunda de São Paulo, que trazia uma urgência em colocar em prática um conjunto estético-temático que se mostrasse em sintonia com um ideal artístico pós-moderno, necessidade essa fruto provável do período obscurantista dos anos de chumbo da ditadura militar. Se no Rio de Janeiro diretores e produtores enveredavam por obras “praieiras” de caráter festivo-hedonista, em São Paulo o foco estava numa ambientação noturna estilizada com tramas envolvendo figuras “outsiders” (artistas, pequenos marginais, prostitutas, michês, gangsteres) em narrativas que abarcavam tanto a encenação naturalista quanto atmosferas oníricas/delirantes típicas do cinema fantástico e dos musicais e tons metalinguísticos. O filme de Wilson Barros tem tudo isso, por vezes esbarrando em uma narrativa irregular e na ingenuidade suas pretensões, em outros momentos trazendo algum encanto em sua trama mosaico de vários personagens, como se fosse uma simpática versão nativa do clássico da estilização cinematográfica oitentista “O fundo do coração” (1982).

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