terça-feira, agosto 28, 2018

Beduíno, de Júlio Bressane ***1/2


Faz alguns anos que assisti a uma palestra de Júlio Bressane e me impressionou a sua lucidez intelectual e mesmo a sua percepção sobre a natureza intrigante da sua própria obra. E é extraordinário como tais aspectos conseguem se tornar visíveis em seus filmes. Só mesmo Bressane consegue fazer com a combinação de um roteiro baseado em discussões herméticas e intrincadas sobre a natureza da arte entre um casal e uma encenação de forte traço antinaturalista se transforme em uma experiência cinematográfica tão estimulante quanto em “Beduíno” (2016). Mostrando a mesma inquietação e criatividade que marcou de maneira constante a sua filmografia, o diretor constrói uma atmosfera delirante que tanto desconcerta quanto encanta, utilizando-se para isso de truques estéticos complexos em termos de concepção existencial-artística, mas que em sua execução também revelam uma simplicidade perturbadora. E a parceria com a atriz Alessandra Negrini revela cada vez mais uma assombrosa sintonia, o que se acaba configurando em uma interpretação que varia com sensibilidade e precisão dramática do sensual ao francamente bizarro.

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