sexta-feira, agosto 31, 2018

Beach rats, de Eliza Hittman ***


A crueza narrativa e cênica de “Beach rats” (2017) faz lembrar “Kids” (1995). Mesmo a parte temática dos filmes chegam a ser bem semelhantes, mostrando o lado obscuro da juventude norte-americana. Ou seja, a obra da diretora Eliza Hitman está bem distante de poder ser considerada uma grande novidade ou ruptura no cinema indie norte-americano. Ainda assim, não deixa de ser um trabalho inquietante. A encenação é de claro teor naturalista, mas embalada em uma bela concepção imagética, o que se mostra em sintonia no próprio jogo de contradições da trama (jovens fotogênicos envolvidos em situações sórdidas, hedonismo exacerbado que se choca com uma melancolia fatalista). O roteiro traz uma sutil carga simbolista nas desventuras do protagonista Frankie (Harris Dickinson) em meio a passeios noturnos com os amigos em Coney Island (em sequências, aliás, que constituem os grandes momentos da direção de fotografia), pequenos furtos e aventuras homossexuais com caras mais velhos. Nesse último aspecto, aliás, talvez se concentre os momentos dramáticos mais complexos e interessantes de “Beach rats”, em que tais episódios mais revelam um caráter ambíguo do que propriamente um erotismo escancarado  – Frankie tanto parece querer saciar seus desejos quanto ter um desejo atávico por uma figura paterna ausente.

Nenhum comentário: