A primeira vez que assisti a adaptação cinematográfica de “Macunaíma” realizada por Joaquim Pedro de Andrade foi na televisão alguns anos atrás. É claro que na época gostei bastante do filme, mas só pude realmente ter uma dimensão da grandeza dessa obra recentemente ao revê-la este ano na tela grande de um cinema numa versão restaurada. Confesso que não li o livro original de Mário de Andrade, mas o engraçado é que assistindo ao filme não sentimos qualquer traço de uma herança literária. É como se tudo aquilo tivesse sido projetado originalmente mesmo para o cinema. A direção inspirada de Joaquim Pedro de Andrade dispensa formalismos acadêmicos e coerências narrativas e consegue dar à obra um delicioso clima anárquico e bem humorado. A seu favor, Andrade também teve uma direção de arte em estado de graça, que parte inicialmente de uma estética rústica e genialmente “mal feita” e chega a uma concepção delirante cheia de influências tropicalistas típicas dos anos 60 (e sem parecer datada), além de contar com um elenco repleto de interpretações marcadas por uma espontaneidade e ironia antológicas e que não caem em nenhum momento na empolação de literatura declamada ou teatro filmado.
No geral, ao se assistir essa cópia nova de “Macunaíma”, pode-se sentir um frescor e uma ousadia ausentes em 99% da produção nacional atual. É um filme que expões sem pudores e falsos intelectualismos as contradições de uma cultura que se alterna entre a sagacidade e a jequice. Essa visão não condescendente aliada à criatividade cinematográfica exuberante de Joaquim Pedro de Andrade fazem de “Macunaíma” uma obra muito mais atemporal que o próprio Cinema Novo.
No geral, ao se assistir essa cópia nova de “Macunaíma”, pode-se sentir um frescor e uma ousadia ausentes em 99% da produção nacional atual. É um filme que expões sem pudores e falsos intelectualismos as contradições de uma cultura que se alterna entre a sagacidade e a jequice. Essa visão não condescendente aliada à criatividade cinematográfica exuberante de Joaquim Pedro de Andrade fazem de “Macunaíma” uma obra muito mais atemporal que o próprio Cinema Novo.
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