De antemão, esclareço que não li a trilogia literária “Millennium” e nem vi a versão cinematográfica sueca dos livros. Assim, a única comparação que posso estabelecer para a versão norte-americana de “Os Homens Que Não Amavam as Mulheres” (2011) é com a própria carreira de David Fincher. Digo isso porque ao assistir ao filme em questão muito me veio à mente “Seven” (1995), um dos grandes momentos do cineasta. Em tal produção, Fincher praticamente estabeleceu os ditames de como seriam os filmes de suspense envolvendo assassinos seriais nos anos que se seguiram, gerando uma infinidade de imitadores de qualidade bastante variável. É provável que ele tenha ficado incomodado com essa escola que criou e tenha realizado o extraordinário “Zodíaco” (2007) justamente para perverter o que havia criado em “Seven”. Mas toda essa breve digressão é para dizer “Os Homens Que Não Amavam as Mulheres” acaba evocando essa série de subprodutos de “Seven”, mas com a diferença que agora é o próprio Fincher que está envolvido diretamente em tal “recriação”. Mas isso não quer dizer que ele tenha aderido à mediocridade. Soa mais como o típico projeto de encomenda que acaba sendo envenenado pelo virtuosismo de um legítimo autor cinematográfico. O filme padece de um roteiro ruim (parece mais uma colagem de situações chocantes do que uma trama homogênea e bem construída) e de uma seqüência final absurdamente anticlimática. Mesmo com tais limitações, provavelmente herança da obra literária original, Fincher se esmera numa narrativa envolvente, enquadrando um bem azeitado trinômio fotografia-edição-trilha sonora, com direito a algumas tomadas antológicas (destaque absoluto para as seqüências do estupro da protagonista e a sua brutal vingança, além de uma perseguição automobilística de angulações surpreendentes). Confesso que não me deu vontade de ler o livro, mas criou expectativa para o próximo filme da franquia.
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