O ator e diretor George Clooney obtém uma síntese artística admirável em “Tudo Pelo Poder” (2011). Dentro de uma exata concisão narrativa (pouco menos de 100 minutos), ele consegue fazer uma parábola sobre o poder e a política nos Estados Unidos que soa convincente e madura. A figura do protagonista Stephen Myers (Ryan Gosling, em caracterização fenomenal) reflete as ilusões, vícios e contradições do jogo político norte-americano sem que seja necessário se apelar a jogos maniqueístas (o que acaba sendo até surpreendente, tendo em vista Clooney ser um notório simpatizante do Partido Democrata). A trama do filme se desenrola em alguns poucos dias de uma campanha para as prévias do Partido Democrata, sendo que em tal curto espaço de tempo Myers se converte de um idealista assessor de imprensa para um cínico e amargo coordenador de campanha. A mudança do personagem traz um certo tom de ambiguidade perturbador, mas também se revela coerente com as situações do roteiro. E apesar da dramaticidade de alguns dos fatos da trama, há um senso irônico em se constatar que os conflitos e ardis que se estabelecem entre os personagens não representam necessariamente que os envolvidos serão eternos inimigos – várias vezes, há diálogos que ressaltam que determinados ataques não representam uma antipatia pessoal. É interessante notar, contudo, que “Tudo Pelo Poder” não joga toda a responsabilidade do vazio moral e intelectual desse jogo exclusivamente no colo de políticos e assessores. Pelo contrário: pode-se perceber que a falta de foco também vem do eleitorado, mais disposto a gastar tempo em discussões periféricas (crença em Deus, aborto, direitos de homossexuais) do que em debates sobre questões que efetivamente dizem respeito a todos (economia e direitos sociais). Ou seja, não muito diferente do nosso processo eleitoral... O esmero na delineação de tal temática complexa encontra ainda um complemento formal elaborado de forma igualmente cuidadosa. Clooney pode não trazer inovações estéticas, mas utiliza de forma elegante um estilo clássico de filmar, combinando um tratamento épico em determinadas tomadas com um sóbrio jogo de sombras e luzes em seqüências de traço mais intimista. Dentro de tal abordagem, talvez o momento mais arrepiante do filme seja aquele em que o candidato Mike Morris (Clooney) comunica ao assessor Paul (Phillip Seymour Hoffman, em outro desempenho antológico do filme) que este último está fora da campanha – praticamente sem diálogos, apenas se enxerga Paul entrando no carro de Mike, com a câmera se aproximando lentamente do veículo e por fim o assessor saindo com uma expressão levemente melancólica. Perfeito resumo do estilo classudo de filmar de Clooney.
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