Um
guerrilheiro afegão (Vincent Gallo), surdo devido a um ferimento de guerra,
fugindo em uma floresta da Europa Oriental durante um rigoroso inverno – tal
premissa já evidencia que o diretor Jerzy Skolimowski não pretende facilitar as
coisas em “Essential Killing” (2010). Não há mocinhos ou vilões para torcer.
Logo no início o pr ota gonista, em fuga desesperada, explode três soldados
norte-americanos com um disparo de bazuca. Durante o período em que fica preso,
é barbaramente torturado por militares ocidentais. Fica evidente que no
ambiente do filme nada é preto no branco... A luta pela sobrevivência por parte
do afegão não fica reduzida ao lugar comum da superação pessoal ou do heroísmo.
O que o espectador vê é um homem reduzido a uma condição instintiva de
preservação da própria vida, não importando a que custo moral. O registro
formal de Skolimoeski revela uma coerência brutal com a trama – há uma ausência
quase completa de trilha sonora (evitando, assim, qualquer tentativa de
manipulação emocional), a direção de fotografia busca um tom documental na
forma seca e objetiva em que filma o calvário do protagonista pelos cenários
áridos e desoladores do seu inferno gélido. A própria interpretação de Vincent
Gallo busca um naturalismo descarnado, em que as reações de seu personagem
quase que emulam uma fera selvagem. O barbarismo a que se reduz o afegão acaba
adquirindo uma conotação simbólica – é como se mostrasse as guerras
disseminadas pelo Oriente Médio levando as civilizações a um estágio de decadência
moral e intelectual. Na lógica niilista de “Essential Killing” não importa se o
protagonista sobreviverá ao final ou não: o seu distorcido processo de
sobrevivência já representa uma derrota.
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