Dentro de um
imaginário cinematográfico com tendências para o obscuro e fetiches, “Lollipop
Monster” (2011) é uma obra estranhamente sedutora, reciclando com certa classe
e ironia elementos típicos da cultura pop contemporânea. A trama evoca
discretamente algo do mote central do extraordinário “Almas Gêmeas” (1994) de
Peter Jackson, mas dentro de um conceito pós-punk alemão (nesse sentido, a
diretora Ziska Riemann parece mostrar sintonia estética e espiritual com outros
nomes do cinema germânico como Wim Wenders e Fatih Akin). A relação de amizade
obsessiva entre duas jovens colegiais, uma aspirante pintora de visual gótico e
órfã de pai artista suicida e uma loirinha voluptuosa, desenvolve-se dentro de
uma ambientação que se divide sem cerimônias entre o realismo e o delírio. De
vez em quando, Riemann se perde num visual e edição “clipeiros”, mas na maioria
dos momentos acerta na concepção formal que remete a um tom de conto de fadas
sombrio. Colabora ainda na elaboração de tal atmosfera a bela trilha sonora, um
verdadeiro compêndio de blues bastardos do novo milênio. E ao trafegar numa
linha tênue entre o sardônico e o trágico, Riemann obtém uma conclusão
insólita, exaltando de forma inesperada a união familiar, ainda que manchada
por um pouco de sangue...
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