É comum em comentários e discussões sobre cinema que alguém se refira a uma obra como acadêmica ou convencional de maneira que isso fosse algo depreciativo. Existem casos em que filmes que tenham tais características realmente possam causar desagrado, mas isso ocorre porque esse convencionalismo denota uma falta de ousadia, uma preguiça criativa. Há situações, porém, que tal atributo se liga ao rigor formal de um diretor na condução de sua narrativa, onde até pode-se não se propor algo de novo, sem que com isso não se perca o interesse em gerar uma obra de considerável ambição artística. É nesse segundo caso que se deve situar “A Princesa de Montpensier” (2010). Com uma trama contextualizada na França do século XVI, marcada por conflitos de ordem religiosa entre católicos e protestantes, o filme do veterano diretor Bertrand Tavernier evidencia um detalhado trabalho de direção de arte e fotografia na recriação de uma ambientação que varia entre o requintado das festas e reuniões das cortes e a sujeira e sordidez dos campos de batalha. O cuidado estético de Tavernier não faz com que o mesmo abdique de uma encenação vigorosa e de uma arguta visão crítica sobre os costumes e a moral da época. O cineasta valoriza de sobremaneira as nuances do roteiro do filme (baseado em um conto literário), evidenciando um texto que não cai na simples contestação da ordem religiosa da época, mas que também constata com sutileza a deturpação dos princípios da moral cristã. Nesse sentido, a caracterização do personagem do Conde Chabannes (Lambert Wilson) é primorosa – um nobre guerreiro que sacrifica serenamente o seu amor pela princesa do título e a própria vida em nome da uma paz que nunca virá.
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