O diretor polonês Wojciech Smarzowski propõe uma estranha combinação de política e elementos de cinema noir em “A casa do mal” (2009). Com uma trama que se divide entre presente e passado, a proposta aparente é de um roteiro que investiga as causas de um assassinato triplo em uma casa isolada no meio rural. Os dois momentos históricos se inserem ainda em pleno domínio comunista da Polônia, e aos poucos detalhes referentes àquela realidade social se inserem de formal sutil – corrupção policial, mercado negro, falta de perspectivas econômicas. Assim, é natural que a ambiência sórdida do gênero noir permeie o filme, mas adaptado para ambiência da obra: o figurino não é exatamente elegante, as “fêmeas fatais” são gordinhas e não tão charmosas, o sexo é sujo e brutal... Smarzowski estabelece uma ordem estética simples, mas eficiente, para diferenciar os tempos narrativos: no passado, onde o crime em questão ocorreu, a encenação de desenrola em tomadas noturnas, em meio à chuva, com o filme adquirindo contornos quase de uma obra de horror. Já no presente, a opção é por filmagens à luz do dia, buscando um paralelo pela intenção do protagonista em “clarear” os fatos obscuros. Por mais que haja uma expectativa de quem assiste em saber o que efetivamente ocorreu na noite fatídica das mortes, entretanto, a conclusão da trama é brilhantemente desconcertante – dentro dos jogos de interesse daquela comunidade, pouco importa saber quem são os culpados, mas sim quem pode ser um bom bode expiatório para mascarar os pecados e abusos daqueles que detém o poder.
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