quarta-feira, outubro 21, 2015

O ciclo da vida, de Zhang Yang *

O diretor chinês Zhang Yang tinha demonstrando habilidade narrativa razoável no envolvente “Banhos” (1999). Assim, seu nome aparecendo como diretor de “O ciclo da vida” (2012) acabava por chamar atenção especial para a produção. As sequenciais iniciais desse filme mais recente por sua vez pareciam confirmar as boas expectativas, ao fazer um registro entre a crueza e a sensibilidade registrando o dia-a-dia melancólico e sereno num asilo de idosos. Essas positivas impressões, entretanto, caem por terra com o desenrolar da narrativa. As opções estéticas e de roteiro se revelam equivocadas, desprovendo o filme de qualquer resquício de sutileza e efetiva densidade dramática. Os idosos personagens principais recebem uma caracterização caricatural – são criaturas unidimensionais, quase como seres bonzinhos e fofinhos que sofrem uma discriminação incompreensível da sociedade. Os conflitos e dilemas da trama são expostos de forma ostensiva e maniqueísta em diálogos e situações que desconhecem a sobriedade e a contenção, o que acaba resultando numa encenação artificiosa, beirando o infantil (no mau sentido da palavra). Em vários momentos as falas dos personagens mais parecem textos institucionais a proferirem intermináveis lições de vida. É claro que o aspecto sentimental tem uma preponderância inevitável em boa parte das obras que aborde a questão da velhice e do abandono, vide algumas produções marcantes da história do cinema. O problema de “O ciclo da vida” é que se confunde esse lado sentimental com pura pieguice oportunista, fazendo com que o filme de Yang mais pareça um novelão mexicano de lágrimas fáceis e manipuladoras.

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